quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

25 de fevereiro de 1979 - O início do absurdo

Olá pessoal
Prosseguindo com a minha postura de viver abertamente o meu passado – já que fez tão mal para a saúde guardar segredo, no sentido de como as coisas aconteceram na minha vida –, aqui estou eu para falar um pouco do dia 25 de fevereiro, data da morte de Vittoria Colonna. Sempre que esse dia se aproxima, coisas estranhas acontecem, não tenho como evitar de sentir a presença dela e a vida volta a mergulhar em uma saudade devastadora. Talvez, esta minha exposição pública de segredos seja até uma forma de me defender do sobrenatural. A dimensão mística dos finais de fevereiro que já vivi são muito assustadores.
Pessoas que se interessam por espiritualidade e paranormalidade sempre querem escutar de mim uma explicação definitiva sobre como o fenômeno espiritual acontece comigo. Para esclarecer isso, nada melhor do que voltar a 25 de fevereiro de 1979, um belo domingo de sol, e entender como aquele roubo da minha prancha revelou o absurdo que eu começaria a enfrentar.
Assim que a situação do roubo teve início, enquanto eu corria na areia quente, além daquelas comunicações de outra dimensão que escutava, uma percepção muito profunda sobre aquele momento tomou a minha mente com o impacto de um soco na cara. O chocante naquela situação do roubo da prancha não foram as "vozes" sobrenaturais. O meu choque veio da incompreensível certeza de que o roubo não tinha acontecido na vida que eu "sabia" que viveria como Carlos Eurico Poggi. Eu sei que esta afirmação não tem lógica, mas eu tinha absoluta certeza de que, em um outro "universo possível", a prancha não foi roubada e ela se tornou um sucesso técnico que me lançou definitivamente como fabricante de pranchas.
O mais incrível, depois do roubo, foi assistir a lenta transformação de fatos da minha vida que eu "sabia" que dependiam da existência da prancha roubada. Eu "sabia", sei lá como, que eu faria uma prancha quase idêntica a um amigo da turma da rua, que era um ótimo surfista, cujo sucesso em um campeonato daria visibilidade para o meu talento como designer de pranchas naquele ano de 1979. "Mas não há mais prancha para eu copiar as dimensões!", me desesperei, quando me vi na situação que "sabia" que viveria. Pasmo, assisti a outro fabricante fazer uma prancha parecida para este meu amigo, que mandou bem no tal campeonato, como eu "sabia" que aconteceria. E assim, aos poucos, a vida feliz e bem-sucedida que eu "sabia" que viveria como Carlos Eurico Poggi foi sendo "modificada".
Hoje, três décadas depois, a estranheza com tudo ao meu redor continua. Apenas os fatos "modificados" da suposta vida original do Carlos Eurico Poggi original não acontecem mais diante de mim, porque o Carlos Eurico Poggi original não estava aqui, no Rio de Janeiro, aos 50 anos de idade, quando as coisas aconteceram originalmente naquele outro universo possível. Bizarro? Com certeza! Mas incrivelmente verdadeiro! É possível, inclusive, perceber resquícios do suposto Carlos Eurico Poggi original no comportamento das pessoas que estariam envolvidas naquela suposta vida original dele. Tenho amigos que simplesmente não enxergam e/ou ignoram a minha vida atual e ficam repetindo perguntas sobre a minha vida de surfista como se nada de diferente tivesse me transformado ao longo dos anos. Essas pessoas, com suas percepções inexplicavelmente congeladas, para mim, são a prova viva de que realmente existiu um outro universo onde a minha prancha não foi roubada em 25 de fevereiro de 1979.
De uma forma que não sei explicar como, sinto que a vida original do Carlos Eurico Poggi original está, sim, pré-gravada no meu inconsciente profundo. Para meu desespero e agonia, às vezes, sou capaz de ver cenas da vida original se desenrolando como um truncado filme mudo. Mas cada vez menos me reconheço nessas supostas cenas da suposta vida original. Contudo, para controlar a angústia e enfrentar o dia a dia de uma vida "modificada", na qual não existe mais o Carlos Eurico Poggi original, procuro manter contato com o mundo do surf.
Em 1983, quando a lembrança da morte da Vittoria Colonna revelou a identidade da minha alma – e descobri o significado do 25 de fevereiro – o difícil foi aceitar que eu não era a mente biológica batizada de Carlos Eurico Poggi, que estava sendo arrancada de sua vida original. Depois, em 1986, diante das revelações dos limites da minha vida por ser o que sou – uma existência terrena entregue à alma de Michelangelo Buonarroti para que ele reencontre Vittoria Colonna (seja lá o que isso signifique) –, simplesmente não aceitei que não poderia viver livremente por não ter a alma do Carlos Eurico Poggi original. Não quis nem saber e resolvi que seria um Carlos Eurico Poggi qualquer em uma vida reinventada. Em 2008, completamente esgotado, depois de 20 anos arrebentando a cara contra a muralha que limitava a minha vida por eu ter a alma de Michelangelo Buonarroti, eu desisti de tentar ser um Carlos Eurico Poggi qualquer.
No meu último 25 de fevereiro, de 2010, sem saber eu escrevi o texto mais intenso de toda a minha vida, chamado "A Confissão", com o qual eu fechei o meu livro "Ícaro, Contemplação & Sonho". Nesse texto, no qual expressei o arrependimento de uma vida inteira lutando contra a realidade de uma emoção que tudo transcende, está a síntese de todos os 25 de fevereiro. Nesse texto está a explicação definitiva sobre a minha pessoa, a minha vida e a minha experiência espiritual: eu sou a encarnação do amor do Michelangelo Buonarroti pela Vittoria Colonna. Apenas isso.